domingo, junho 18, 2006

O verdadeiro amor

Confundem os modernos amar com ser amado. E nas novas concepções de amor expulsam os tradicionais e sábios termos e definições que a pedagogia católica nos forneceu sobre tão nobre sentimento.

Resgatando o romantismo – e o tomo no sentido filosófico e cultural –, realçam a emoção, desconfiando da razão estar intrometida nos assuntos amorosos. Ora, esquecem os postulantes dessa tese que o amor é, antes de tudo, um ato da vontade. Ama-se não por uma cegueira emocional, mas porque se quer amar. Ninguém ama o que não quer, o que não lhe atrai, de modo que a frase de que o amor é cego torna-se uma falácia. Quem ousa proferi-la ou não sabe o que é realmente o amor, ou o converteu em emocionalismo adolescente, pueril.

Longe de nós definir o amor com conceitos frios... Entretanto, não podemos esquecer que a fim do homem, a felicidade, está em ordenar suas potências, e ele o faz ao submeter os sentidos à vontade, e esta à razão, iluminada pela graça de Deus. O amor, meio do homem ser feliz e mesmo confundindo-se sadiamente com a própria felicidade, só é verdadeiro quando afastamos as concepções que o “libertam” da razão.

As emoções nunca podem ser o critério para a maturidade do amor. Começa este com uma escolha por parte do amante quanto ao amado. Desenvolve-se com o descobrimento do outro, o que confirma a primeira opção ou o convence de que a futura união não é um bom caminho. O papel da emoção, no processo amoroso, é justamente estar a serviço da razão, eis que esta é que nos fornecerá o julgamento adequado quanto ao amor – porque devo amar, como devo amar...

Amor, vemos, é uma decisão! Se Cristo nos mandou amar os inimigos, é porque temos de nos decidir a amá-los. E como amar e “sentir amor” são coisas diferentes, não somos obrigados a gostar de todos e a externar proposições românticas para qualquer pessoa. Não! O mandamento do amor é a máxima prova do conceito que tem Jesus desse sentimento: amar é desejar o bem do outro. Amamos nossos inimigos quando, a despeito de nossas diferenças quanto a eles, desejamos, sinceramente, o seu bem – mesmo que um bem a desejar para um assassino seja sua justa punição. Só se deseja o bem com a razão e não com as faculdades inferiores de uma emoção inconstante. Só a inteligência é constante!

No amor entre amigos, máxime no amor conjugal, a decisão de amar ocupa papel central, ainda que possa ser imperceptível por operação inconsciente que o seja. Mal ou bem, escolhemos estar com a pessoa amada. E a todo instante estamos fazendo novas escolhas – seja elegendo a continuidade da relação, seja rechaçando-a. Se elas forem feitas com critérios meramente emocionais, a inconstância as dominará: bastará acordarmos de mau humor ou sentir uma atração física passageira por outrem para resolvermos terminar tudo o que a razão recomendaria que permanecesse.

Não vejo nada de frio nesse conceito de amor... Pelo contrário, lembro que cada vez que digo a minha amada que a amo, não o faço por “cegueira” ou por um sopro das inconstantes emoções. Quando digo que a amo, amo-a com meu ser completo. Na prática, é como se lhe dissesse que o maior ato de inteligência que tive foi o de escolhê-la. E isso não poderia ser feito se minha escolha fosse um ato puramente emocional.

Com a razão coordenando as emoções, e tudo sob o influxo da graça de Deus, minhas decisões podem ser mais constantes, e, por isso, também meu amor. Quem se sente amado por mim, logo, sabe que, ao dizer que a amo com minha inteligência, deve estar extremamente lisonjeado!

O que é melhor: dizer para uma pessoa que seu sentimento por ela é o resultado de uma emoção passageira (e que ela nem sabe ao certo o porquê de amá-la, que é “obrigado” a amá-la), ou que é resultado de um ato livre, deliberado, intelectual? Estou com a segunda opção... É o ensino de Santo Tomás e dos maiores conhecedores da alma humana! É o recado de Bento XVI na Deus Caritas Est!

Estado laico, Nação católica!

Não consegue o Estado manter-se neutro em matéria religiosa. Esse ente abstrato, que desempenha a máxima função de autoridade na direção da esfera civil, é ocupado por homens. Mito, ficção, criação absurda de juspositivistas sem a mínima conexão com a realidade, a doutrina de que o Estado é absolutamente independente daqueles que o dirigem.

Claro, as pessoas físicas nos postos de comando do Estado não são o Estado. Todavia, daí não se afirme que as primeiras nada têm a ver com este. Se uma medida estatal posiciona-se de determinada maneira, tal só se dá porque quem a promulgou pensa exatamente assim. Nisso, um decreto de inclinação socialista será posto em ação por um governante igualmente socialista. Nada mais natural. Seria bizarro supor que o Estado é tão elevado e acima da sociedade que dela não receba influência, que consiga manter-se neutro. Impossível ao Estado a intelecção: entes abstratos não pensam!

Quem pensa é o burocrata que dirige o Estado, seja monarca seja político. E nisso não há nada de anormal. Com base nessa situação, é possível avançar.

Sabemos que ninguém é religiosamente indiferente. Ou tem determinado credo, ou cria o seu próprio com amálgamas de outros, ou é hostil à religião. Ora, se quem dirige o Estado, pessoa jurídica, é um governante, pessoa física, não haveremos de achar que, neste terreno das concepções morais e metafísicas, esse último não influenciará aquele. É inegável ao homem a incapacidade de abster-se de juízos de valor. Não pode, pois, um ente comandado pelo homem, como o Estado, deixar de ser guiado justamente por tais juízos de valor, na economia, na saúde, e também na religião.

Por isso, não existe, na prática, Estado absolutamente laico. Ou ele é religioso, adotando qualquer fé, ou é anti-religioso. Nunca indiferente. O ideal da Constituição está em desconexão com a realidade, e idéia contrária à realidade é ideologia.

Bento XVI afirma que “a tolerância, que, por assim dizer, admite Deus como uma opinião provada, mas lhe recusa o domínio público, a realidade do mundo e nossa vida, não é tolerância, mas hipocrisia.” (Homilia na abertura do Sínodo dos Bispos, 2/10/05)

Ao Estado – qualquer um – é absolutamente impossível, repetimos, assumir uma postura de indiferença à religião. Qual, entretanto, a adotará? A da sociedade a quem ele deve comandar. Sociedades cristãs pedem ou elegem representantes e dirigentes cristãos – ou que ao cristianismo não se oponham. A incompatibilidade entre o Estado laico constitucionalmente definido e a Nação brasileira, que se mantém fiel à sua cultura católica, é uma aberração que não contribui para nosso progresso. Pelo contrário, fortalece o autoritarismo dos governos cada vez mais contrários à religião da maioria, que nos querem empurrar “goela abaixo” seus abortos, suas eutanásias, seus “casamentos” gay. Sob a capa da liberdade falseada e de um inexistente Estado laico, esconde-se a atroz ditadura que não respeita a fé dos que elegeram seus magistrados.

“O nome de Deus está cristalizado na alma do povo brasileiro. Ou o Estado, deixando de ser ateu e agnóstico, reconhece o Deus do povo, ou o povo não reconhecerá o Estado.” (Cardeal Sebastão Leme, Arcebispo do RJ, em 31/05/1931)

Cân. 750 – § 1. Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que se contém na palavra de Deus escrita ou transmitida por Tradição, ou seja, no único depósito da fé confiado à Igreja, quando ao mesmo tempo é proposto como divinamente revelado quer pelo magistério solene da Igreja, quer pelo seu magistério ordinário e universal; isto é, o que se manifesta na adesão comum dos fiéis sob a condução do sagrado magistério; por conseguinte, todos têm a obrigação de evitar quaisquer doutrinas contrárias.

§ 2. Deve-se ainda firmemente aceitar e acreditar também em tudo o que é proposto de maneira definitiva pelo magistério da Igreja em matéria de fé e costumes, isto é, tudo o que se requer para conservar santamente e expor fielmente o depósito da fé; opõe-se, portanto, à doutrina da Igreja Católica quem rejeitar tais proposições consideradas definitivas.

Cân. 752 Não assentimento de fé, mas religioso obséquio de inteligência e vontade deve ser prestado à doutrina que o Sumo Pontífice ou o Colégio dos Bispos, ao exercerem o magistério autêntico, enunciam sobre a fé e os costumes, mesmo quando não tenham a intenção de proclamá-la por ato definitivo; portanto os fiéis procurem evitar tudo o que não esteja de acordo com ela.