domingo, novembro 13, 2005

Cristo Rei ou Anti-Cristo?




A tarefa dos cristãos é, além de sua santificação pessoal, a dilatação da fé pelo apostolado, fazendo com que todos os homens, livremente, rendam suas almas a Cristo. Para que isto ocorra, se lhes junta outra missão, inafastável sobretudo nestes tempos de ódio à religião e à virtude: a recristianização da sociedade, a ser desempenhada, segundo o Concílio Vaticano II, principalmente pelos leigos, os quais devem, "por própria vocação, procurar obter o Reino de Deus gerindo os assuntos temporais e ordenando-os de acordo com Deus." (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 31)


Não só os homens, mas também as sociedades dignas de sua identidade católica, e os Estados que as dirigem, devem obedecer a Deus, embora isso possa soar intolerante e anacrônico em face dos modernos (ainda que ilegítimos) princípios do laicismo, relativismo filosófico e religioso, e separação radical entre trono e altar - que na Europa começa a dar novas provas de sua perversidade, e no Brasil ensaia, mesmo com atraso, seus primeiros grandes passos com a legalização criminosa do aborto, as tentativas de silenciar injustamente a voz dos Bispos, a imposição do "casamento" gay contra a lei natural e os costumes de nossa gente, e a campanha pela retirada dos crucifixos no Judiciário gaúcho. O Papa Pio XI, instituindo a solenidade de Cristo Rei, em 1925, expressava seu autorizado ensino: "A celebração desta festa (...) constituirá também uma admoestação para as nações de que o dever de venerar publicamente Cristo e de Lhe prestar obediência diz respeito não só aos particulares, mas também aos magistrados e aos governantes." (Encíclica Quas Primas, 33) Há um Reinado Social de Jesus Cristo - conforme a expressão do Cardeal Pie e consagrada no Magistério eclesiástico -, reflexo do Reino dos Céus e daquele estabelecido nas almas, e portanto "erraria gravemente quem subtraísse a Cristo-Homem o seu poder sobre todas as coisas humanas e temporais" (Pio XI, op. cit., 15). Seu Reino não é deste mundo (cf. Jo 18,36) porque vem do céu, não sendo limitado pelas vicissitudes terrenas: o texto joanino não pode ser pretexto, porém, para invocar uma realeza exclusivamente espiritual. O ser humano é espírito e matéria, alma e corpo: no cristão, Jesus é Rei de ambos e da sociedade onde vive.


Discordante dessa verdade, há o liberalismo sanguinário do século XIX, ainda muito forte, nascido da vaidade e do orgulho, e que se origina na Revolução Francesa e se espalha mundo afora em distintas ramificações: anticlericalismo, indiferentismo, relativismo, absolutização das democracias, e todas as formas de totalitarismos modernos (nazismo, fascismo, comunismo, socialismo), bem como a ideologia dos atuais politicamente corretos. Inimigos do Reinado Social de Cristo sobre a ordem temporal - que não se faz ignorando o Estado, como poderiam acusar alguns; pelo contrário, respeitando-o e reconhecendo sua independência e soberania no campo que lhe é próprio, a gerência dos negócios civis, mas submetendo-o a Deus -, esses que Leão XIII denominou "a peste de nossa época" (Encíclica Annum Sacrum) constituem-se sob o estandarte de quem se coloca contra Deus. São os mesmos que bradam no Evangelho: "Não queremos que ele reine sobre nós." (Lc 19,14)

Importa aos católicos assumirem seus lugares na tropa que milita pela autêntica Civilização da justiça, da paz, da concórdia, da harmonia social, da hierarquia, da ordem e dos valores, sob o comando de Cristo Rei, cuja festa litúrgica, no último Domingo do Tempo Comum, este ano em 20 de novembro, celebramos, unidos a Bento XVI, com renovado entusiasmo.

Um comentário:

swedenborg disse...

Rafael, primeiramente parabéns por reativar o Comentário Ultramontano, estava fazendo falta.Segundo,acho que toda esta sujeira que aflora na arena política está fazendo que muitas de nossas melhores cabeças desviem o foco somente para o campo político-partidário, deixando descoberta a trincheira da kulturkampf.Se esquecem que a "praga de nosso tempo" não é só o PT, por mais asco que essa quadrilha venha a provocar, na verdade eles são Legião.Eu mesmo me penitencio por ter deixado isso de lado nos últimos tempos.Mais uma vez parabéns e "Viva Cristo-Rei."

Cân. 750 – § 1. Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que se contém na palavra de Deus escrita ou transmitida por Tradição, ou seja, no único depósito da fé confiado à Igreja, quando ao mesmo tempo é proposto como divinamente revelado quer pelo magistério solene da Igreja, quer pelo seu magistério ordinário e universal; isto é, o que se manifesta na adesão comum dos fiéis sob a condução do sagrado magistério; por conseguinte, todos têm a obrigação de evitar quaisquer doutrinas contrárias.

§ 2. Deve-se ainda firmemente aceitar e acreditar também em tudo o que é proposto de maneira definitiva pelo magistério da Igreja em matéria de fé e costumes, isto é, tudo o que se requer para conservar santamente e expor fielmente o depósito da fé; opõe-se, portanto, à doutrina da Igreja Católica quem rejeitar tais proposições consideradas definitivas.

Cân. 752 Não assentimento de fé, mas religioso obséquio de inteligência e vontade deve ser prestado à doutrina que o Sumo Pontífice ou o Colégio dos Bispos, ao exercerem o magistério autêntico, enunciam sobre a fé e os costumes, mesmo quando não tenham a intenção de proclamá-la por ato definitivo; portanto os fiéis procurem evitar tudo o que não esteja de acordo com ela.